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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quarta-feira, junho 04, 2014

Universo T - uma reflexão

A minoria dentro das minorias. É assim que podemos, de forma simplificada, definir as pessoas trans. Somos mulheres e homens em que o género – seja a identidade ou expressão – se encontram sempre fora da suposta “norma”.

O binarismo de género, ou seja a dicotomia homem-mulher não se aplica a grande parte das pessoas trans. Há pessoas trans que não se sentem nem homens nem mulheres, há pessoas trans que se identificam como mulheres mas nada ou pouco alteram o seu corpo e vice-versa, há pessoas trans que alteram todo o seu corpo para caberem na sua sentida identidade de género masculina ou feminina.

Tanto se tem falado, escrito, discutido sobre o universo T, e tão pouco se sabe ainda, ou se quer saber. Um dos últimos estudos feitos sobre pessoas trans detectou pelo menos 500 tipos diferentes de identidades de género. Como falar então numa simples dicotomia mulher-homem?

Há quem se sinta mulher. Há quem se sinta homem. Há quem não se sinta nada dentro destes dois géneros. O género é um longo caminho de tons de cinza entre o preto e o branco. E cada um de nós se encaixa algures dentro desse imenso espectro, o que raramente é visto com bons olhos.

A comunidade LGB existe por si só e discrimina muitas vezes a comunidade T. Ou seja, o T está lá mas é como se não estivesse. Por isso também se discute cada vez mais se o T lá deveria estar, ou se deveria ser uma categoria à parte. Afinal, identidades trans não são orientações sexuais. Uma pessoa trans pode ter qualquer orientação sexual. Uma mulher trans pode ser hetero, lésbica ou bi. O mesmo se passa com um homem trans.

Acima de tudo há que ter a noção plena de que muitas pessoas que se identificam como transexuais não sentem necessidade de fazer a cirurgia de correcção de sexo. Chega de genitalocentrismo. Esta cirurgia pode ser uma consequência de se ser transexual, nunca uma causa. Chega de nos considerarem doentes mentais.

Nós não somos doentes. Somos diferentes. Como cada pessoa é da outra.

Chega de transfobia dentro da comunidade LGBT.

Só no dia em que nos aceitemos uns aos outros como somos realmente alguma coisa mudará. O respeito verdadeiro e honesto verá a luz do dia, e então poderemos falar de uma verdadeira Comunidade. Até lá, a intolerância e a falta de respeito imperarão, como agora se passa.

A transfobia mata. Cada vez mais. Qual será o nosso futuro então?


Lara Crespo, 3 de Junho de 2014



Este meu depoimento foi escrito para a apresentação que Ana Rita Brito, Coordenadora do Projecto AGUARELA - Plano de Iniciativas para o Combate à Discriminação pela Orientação Sexual e Identidade de Género, da ONG Saúde em Português, fez na tertúlia "Transformar", realizada em Coimbra.