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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

segunda-feira, janeiro 20, 2014

Luto.

2014 poderia ter começado da melhor forma, mas, para variar neste país pequenino de mentes e mentalidades pequeninas, não foi isso que aconteceu. Estou de luto por mim, por ti, por tod@s nós que pertencemos à comunidade LGBTI.

Que o estigma que nós, mulheres trans temos, já muito tenho escrito aqui, mas nunca é demais vincar bem essa realidade. Que o estigma que persegue os casais homossexuais, apesar do casamento civil já ser legal e real, também sabemos que existe. E agora, ao vermos esta tristeza, esta vergonha de tentar retirar direitos básicos, direitos humanos a todo um espectro de gente, vemos bem que Portugal nunca saiu da cepa torta, e que os preconceitos e a discriminação é real e sempre será.

Esta minha reflexão não pretende ser mais nada do que isso. É um grito de revolta. É um estado de luto. É uma tristeza imensa por ver que o país onde nasci, cresci e vivo não merece uma grande maioria das pessoas que ainda aqui vivem. Sinto uma vergonha e um nojo imenso por esta "juventude" que se acha no direito de destruir a liberdade que os seus avós e os seus pais tanto lutaram para ter.
 
 

Eu, como mulher trans, não tenho o mesmo direito de conseguir um trabalho condigno com as minhas habilitações e experiência, apenas porque sou uma mulher trans. E as mulheres trans são todas putas, como já estou farta de ouvir. Se somos todas putas é porque não nos dão outra hipótese de conseguir sobreviver, pois não temos direito a um trabalho dito "normal". E vemos este preconceito estereotipado em todo o lado e por (quase) toda a gente. Já não chega o assédio e desrespeito diário, ainda somos todas rotuladas, discriminadas e postas de lado, como merda, como lixo. Por mim falo. As outras poderão falar por si, mas pelo que vejo e sei, a realidade é toda a mesma de norte a sul deste país, do litoral ao interior.

E, como se isto já não bastasse, continuamos a ser "os" em vez de "as". Estas mentalidades e esta gente nem sequer sabe utilizar os pronomes correctos quando se dirige a uma mulher trans. Se é mulher é "uma" é "a". Se é um homem trans é "um" é "o". E há muitas pessoas dentro do próprio conjunto das pessoas trans que joga na mesma pandilha, e que espalha o preconceito que acaba por ir contra elas próprias. Pelos vistos, ignorância e estupidez existe realmente em todo o lado, mesmo dentro desta minoria dentro das minorias.

Estou de luto igualmente por tantas famílias do mesmo sexo que por esse país fora foram e continuam a ser afectadas e prejudicadas porque não temos uma lei de adopção e co-adopção, que é um direito fundamental num dito "estado de direito". Tenho assistido a esta palhaçada, a esta nojeira que um "governo" e uma "maioria" muito supostamente democráticos têm vindo a representar na assembleia da república e nos diversos "discursos" de pessoas (não seres humanos) que se acham no direito de decidir o futuro e os direitos das pessoas que deveriam estar desde sempre consagrados em lei, não só na constituição. 

Estou de luto por mim, por ti, por nós. Tenho vergonha de ser portuguesa e, na falta de palavras, resta-me mandar isto tudo à merda, e agradecer por me terem morto em vida.

Obrigada a tod@s aquel@s que me têm lido. Se voltar a escrever, não será tão breve e, se o fizer, já não será aqui.

Obrigada e até sempre.

1 Comments:

Anonymous Anabela Rocha said...

Olá Lara :) Pois é, as coisas nunca são fáceis para nós, e muito menos para vós - há sempre que fazer das tripas coração e dar a volta. No caso da co-adopção meteram tanto as mãos pelos pés que podem ter-se lixado bem mais a eles do que a nós, o que é motivo de alegria :)
Enfim, era para te dizer para não deixares que estes lorpas gananciosos te cortem a voz. É fundamental este teu blog, é o teu espaço, conquistaste-o e moldaste-o; e não há nada que eles possam fazer contra isso. Beijinhos, continuação de boas escritas

janeiro 20, 2014 10:10 da manhã  

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