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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quarta-feira, agosto 14, 2013

As palavras magoam. E muito.

Reflexões sobre conceitos e sentimentos que eu aprendi e apreendi ao longo da minha vida, e que, pelos vistos, estão completamente ultrapassados.

Tenho escrito sobre vida, morte, tristeza, alegria, depressão, amor, ódio e por aí fora. Tudo isto faz parte da minha vida, como faz parte da vida de qualquer outra pessoa. Mas será que estes conceitos, a forma como eu aprendi a vê-los e vivê-los é, agora, a mesma? Nope, não me parece definitivamente que seja.

Amizade, por exemplo, é um dos melhores conceitos que representam um sentimento que se alterou drasticamente. Eu aprendi que a amizade era algo especial que se sentia por alguém quando havia empatia, interesses em comum, atracção intelectual. Ainda me lembro de noites em branco, com uma chávena de chá ou café, a falar sobre isto e aquilo, eu e o outro, em que ambos os lados partilhavam alguma coisa, muita coisa, o seu mundo.

Hoje em dia, amizade é banal. Amigo é o gajo com quem vais para a cama, amiga é aquela que tens ao lado na secretária do trabalho, ou seja, toda a gente tem imensos amigos, porque basicamente tudo o que é cão e gato é considerado amigo. Mas o que é isto???

Amor era, para deixar de o ser. Numa altura em que tanta canção, tanto livro, tanto filme, continuam a falar de amor, as pessoas seguem no caminho oposto e evitam tocar sequer no assunto. É tudo fast-feeling. Tudo sem compromisso. Tudo leve, demasiado leve e "sem stresses", como também é muito habitual ouvir agora.

E isto são apenas dois exemplos, e provavelmente os que considero mais graves, do fast-feeling. Não nos ligamos a ninguém, e assim ninguém se magoa, tu estás na tua e eu estou na minha. Não há verdadeiras ligações entre as pessoas. Apenas e demasiado virtuais, no pior sentido da palavra.

E aqui entra, no meu caso e acredito que em muitos outros, o passado. Não sou uma velha carcareja saudosista. Pelo menos não me vejo como tal. Apenas considero que aquilo que sentimos uns pelos outros é o mais importante da vida, e que parece já não importar para nada. Passado é passado. Se há coisa que também aprendi é que quando algo se desvanece, e passados anos, parece ressurgir, não é verdadeiro. É sempre forçado e não vai resultar. "Ah, éramos tão amigas". Exacto. Éramos, passado. Já não somos. Tu seguiste o teu caminho e eu segui o meu. E o mais provável é já nada termos uma a ver com a outra. O meu universo expandiu-se para um lado, o teu para outro. Não vale a pena tentar recuperar o que se perdeu no tempo. As relações entre eu e o outro vêm e vão como as marés. Até que um dia vão para não mais voltar. Portanto, vamos deixar o passado sossegado, que é onde ele está melhor.

Há tempos acusaram-me de ser preconceituosa e xenófoba (ãh???). Confesso que não percebi o contexto. Também não percebi, muito sinceramente, se essa pessoa está com algum problema mental, é bipolar (está muito na moda), ou se me está a confundir com alguém. Preconceitos toda a gente tem, mesmo que diga que não tem. Assumo, obviamente, que terei os meus preconceitos, mas nunca me prejudicaram a vida, as relações humanas, ou fosse o que fosse. Agora, xenófoba, eu??? Não deixa de ser curioso a tal pessoa utilizar este termo. Deve ser porque está (também e infelizmente) na moda, porque essa pessoa consegue ser tão estúpida que nem sabe o que significa, ou eu ainda estou mais estranha, loira e burra do que pensava.

Abro aqui um parêntesis apenas para deixar a definição de xenofobia retirada do Dicionário Online Priberam:
xenofobia
(xeno- + -fobia)
s. f.
Aversão aos estrangeiros ou ao que vem do estrangeiro, ao que é estranho ou menos comum. = XENOFOBISMO

E este tipo de acusações veio de um ex-amigo. Sim, quem me ofende desta forma não pode ser considerado meu amigo. Alguém que eu pensava que conhecia e que me conhecia. E amigo (ex quero eu dizer) de muitos anos. Uma pessoa que sabe o meu percurso de vida e se dá ao luxo de me chamar este tipo de coisas ou é muito insensível, muito estúpida, ou ambos.
 
 

Estas reflexões que aqui deixo e vou deixando mostram-me como sou. Não sou plástica, sou carne. Não sou egoísta, sou sensível. Não sou homem, como muit@s para aí dizem. Sou mulher. Tenho qualidades e defeitos. Quem não tem? Mas respeito, esse, meus e minhas querid@s, é acima de tudo. Ninguém é perfeito, e eu estou muito longe disso. Mas não admito que me desrespeitem. Que violem aquilo que eu sou. Que passem por cima dos meus sentimentos.

Em relação às bocas da reacção: há mulheres com pilinha, amig@s. Se não o aceitam, o problema é vosso. Respeitem para serem respeitados e não usem palavras em vão.

As palavras magoam. E muito.
 
 
---> Make Up Artist e fotografia: Pedro Miguel Silva