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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quarta-feira, julho 10, 2013

Os homens são de Marte, as mulheres são de Vénus

Numa vida em que eu tive que refazer e aprender tanta coisa, é triste chegar aos 42 anos e chegar à conclusão que, na realidade, os homens são de Marte e as mulheres de Vénus.

Fartei-me de ter conversas daquelas em que os homens diziam (e dizem) que não entendem as mulheres, que não percebem o que elas querem, que não lhes apetece falar dos assuntos que elas falam e todo aquele bla, bla, bla que conhecemos.

Sim, porque antes de me assumir como mulher publicamente, tive que andar refundida durante metade da minha vida numas vestes e num papel de género que não me correspondia e tinha que levar com as verborreias mentais de muito suposto macho que anda por aí.


E, como repararam comecei com um cliché do mais cliché que há. Mas, na realidade, ao vivermos apercebemo-nos que as pessoas reproduzem os clichés, aprendem e apreendem os clichés e reproduzem-nos, como se fosse algo que lhes estivesse no ADN.

As mulheres são assim, os homens são assado, as mulheres fazem isto, os homens não. E mesmo sendo activista, feminista, transexual e mulher, acabo por me aperceber que eu própria reproduzo muitos destes clichés do papel de género feminino que me foram incutidos. E sinto-me estúpida e ridícula quando me apercebo.

"Bem, tenho que ser feminina, porque sou mulher". O que é que isto quer dizer? O que é ser feminina? O que eu considero ser feminino provavelmente não é o mesmo que outra ou outro considere. Eu tenho padrões (subjectivos, confesso) do que é ser feminino e masculino, mas apercebo-me que a maioria das pessoas tem conceitos estáticos, são pragmáticos em relação à feminilidade e masculinidade.

E então se eu for uma mulher trans? Aí é que a porca torce o rabo. Ao longo dos anos fui vendo que as mulheres trans exacerbam, ou têm tendência para isso, os traços femininos (ou supostamente femininos) em todas as suas vertentes. É plástica para cá é silicone para lá, é roupas exageradamente reduzidas, como se para sermos vistas como mulheres temos que usar roupas que as próprias mulheres biológicas raramente usam e por aí fora. Se as estou a julgar? Estou e não estou. Não as critico pejorativamente. Estamos em sociedades (não me refiro só à portuguesa) em que nos são exigidos papéis de género como definições daquilo que somos.

E devido a mais este cliché, aquelas mulheres trans que não encaixam neste perfil são postas de parte. E eu não encaixo no cliché básico da mulher trans. E sou discriminada por isso. Sou presa por ter cão e presa por não ter. Tanto sou tratada como homem com mamas, como sou tratada como "meio-andrógina", seja lá o que essas coisas são. Não faço parte do cliché, nem quero fazer. Sou como sou, tento conviver o melhor possível com o meu corpo, mas recuso-me a transformar-me em algo que eu olhe ao espelho e não me identifique.

Mas as mulheres (trans e bio) não entendem isso. Muito menos os homens, sempre tão ligados aos lugares-comuns dos papéis sociais e de género. Então para eles, ser-se trans é quase uma mistura entre uma Barbie humana e uma Angelina Jolie. As mulheres trans têm que ser lindas, deslumbrantes, siliconadas, que usem todas tops e mini-saias e saltos-altos agulha. Ridículo no mínimo.

Se não te encaixas aí, minha amiga, estás mal. Ou não te preocupas com isso e tens esperança de encontrar algum "iluminado" que se interesse por ti por quem és e não pelo que aparentas ser, ou investes milhares de euros na tua imagem para depois conseguires umas quecas secas com todos os homens que encontrares e te apetecer.

Eu sei, eu sei, homens e mulheres supostamente são diferentes hormonalmente e por aí fora. Mas se não se pusessem as pessoas em caixinhas herméticas, talvez vivêssemos todos muito melhor e conseguíssemos ser realmente felizes, em vez de andarmos todos aqui a fingir que o somos.

2 Comments:

Blogger vera said...

É linda! PONTO FINAL!

julho 10, 2013 10:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Excelente o site e a matéria.
concordo com vc, tem mitas mulheres ai que nao da pra saber se é mulher um uma boneca de vitrine, se deformam com tantas coisas desnecessárias.
tudo bem, tem que ser um pouco feminina se és mulher, trans ou bio. Mas o que vale realmente é o caráter. Nada vale peitos grandes, bumbum empinado... se por dentro nao esta bom.
como diz a placa, nao tem piriquitá, o fato de nao te la nao é o fim do mundo, são mulheres da mesma forma, ou ate mais bela.
parabéns a todas as trans, ja sao belas por existir, por assumirem e lutar por isso!

julho 27, 2013 4:17 da manhã  

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