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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Amizade é...

Sentimentos e emoções são coisas distintas, mas que apesar de tudo se tocam.
Cada um de nós terá as suas próprias definições e convicções em relação ao que é um sentimento ou uma emoção. E a amizade o que é, hoje em dia?

Eu sempre vi a amizade como uma união empática entre duas pessoas. Sempre separei as relações entre conhecidos, mais que conhecidos e amigos. E neste restrito grupo acumulam-se as vivências, sentimentos e emoções de duas pessoas - eu e o outro.

Sempre vi e vejo a amizade como uma relação que pode ir de uma empatia emocional e racional que se prolonga durante anos, a uma empatia intelectual que dá aquelas conversas que duram uma noite toda sentados no sofá com uma chávena de café bem quente.

Nunca misturei amizade com outras coisas. Amizade pode ser uma forma de amor, como em geral se refere, mas como não acredito que o verdadeiro amor exista, acho que a amizade vale por si como um sentimento em que nós escolhemos alguém e alguém nos escolhe. Uma espécie de "segunda" família, visto que a biológica nós não escolhemos. Mas nunca, nunca misturei amizade com "amor" ou sexo.

E aquilo que mais é banal hoje em dia, as supostas amizades coloridas, seja lá isso o que for, não encaixam no meu perfil de ser humano e de mulher. Uma amizade em que entra sexo deixa de ser uma amizade para mim. Passa para outro patamar. Um patamar em que a pureza da amizade verdadeira passa a ser conspurcada por factores que nada têm a ver com isso, como o ciúme, a confusão entre "somos só amigos, ou não?" e por aí fora.

Também tenho perfeita noção que hoje em dia tudo é descartável e qualquer macaco diz que quer ser meu "amigo" como se bebesse um copo de água, e como se a amizade nascesse de geração espontânea. Como se uma verdadeira amizade não fosse uma escolha de ambos, algo construído com bases sólidas, em que empatia e respeito são valores básicos.

O busílis da questão é que (quase) toda a gente quer "amigos" porque supostamente vai ganhar alguma coisa com isso. Há interesse, não no sentido da pessoa, mas no sentido de sugar o outro da forma que puder. Interesse no seu pior lado, revestido de cinismo e segundas intenções. Por isso, hoje em dia, a amizade é uma palavra banalizada até ao lixo. Qualquer um se diz amigo do outro, e no fundo nem sequer se conhecem. Reina o interesse de ser "amigo" do outro.

Lamento, mas não concebo para mim, na minha vida, "amigos" (leia-se homens e mulheres) que nem sequer conheço. Pessoas que passam pela minha vida sem deixar marca e desaparecem. Não, para mim não. Para mim, amigos são aqueles que estão comigo. São aqueles que escolhi e me escolheram, que eu conheço e me conhecem, de quem eu me lembro quando estou triste e a quem telefono a contar quando estou feliz. São aquelas pessoas com quem compartilho a minha vida porque quero, com quem troco o mais importante de mim: os meus sentimentos e as minhas emoções. Que conhecem o meu lado mais doce e o meu lado mais negro. Que não têm vergonha de estarem comigo numa esplanada quando tudo olha e comenta, e até têm orgulho nisso.

Conhecidos tenho muitos. Mais que conhecidos, alguns. Amigos tenho menos que os dedos de uma das minhas mãos. São a minha família adoptada, os especiais para mim. E são eles que me ajudam a suportar o dia-a-dia, a sobreviver, a respirar. E a amizade, para mim, é isso. Não é travestir sexo com outro nome, ou fazer o mesmo com interesses obscuros. A amizade é única e pura. E cada amigo que já perdi neste mundo, fez-me desmoronar, morreu com cada um deles um bocadinho de mim. Mas a memória dos momentos que vivemos juntos dá-me força e ajuda-me a continuar.

Ah, já agora agradeço, visto que sou "antiga", que alguém se digne a explicar-me tintin-por-tintin o que é "amizade colorida" e coisas afins. Obrigada.